Papa: Para entrar no mistério é preciso humildade
O Papa Francisco presidiu
neste Sábado Santo, 4 de abril, na Basílica de São Pedro, a solene
Vigília Pascal da Ressurreição do Senhor.
Eis a homilia do Santo Padre,
na íntegra.
Esta é uma noite de vigília.
Não dorme o Senhor, vigia o Guardião do seu povo (cf. Sl 121/120, 4) para fazê-lo sair da escravidão e abrir-lhe a estrada da liberdade.
O Senhor vigia e, com a força do seu amor, faz passar o povo através do Mar Vermelho; e faz passar Jesus através do abismo da morte e da mansão dos mortos.
Foi uma noite de vigília para
os discípulos e as discípulas de Jesus. Noite de desolação e de medo. Os homens
permaneceram fechados no Cenáculo. As mulheres, ao contrário, ao alvorecer do
dia depois do sábado foram ao sepulcro para ungir o corpo de Jesus. Tinham o
coração cheio de angústia e perguntavam-se: «Como faremos para entrar? Quem nos
fará rolar a pedra do sepulcro?». Mas eis o primeiro sinal do Evento: a grande
pedra já fora removida e o túmulo estava aberto!
«Entrando no sepulcro, viram
um jovem sentado à direita, vestido com uma túnica branca» (Mc 16, 5). As
mulheres foram as primeiras a ver este grande sinal: o túmulo vazio; e foram as
primeiras a entrar nele.
«Entrando no sepulcro».
Faz-nos bem, nesta noite de vigília, deter-nos a reflectir sobre a experiência
das discípulas de Jesus, que nos interpela a nós também. Realmente é para isto
que estamos aqui: para entrar, entrar no Mistério que Deus realizou com a sua
vigília de amor.
Não se pode viver a Páscoa,
sem entrar no mistério. Não é um facto intelectual, não é só conhecer, ler... É
mais, é muito mais!
«Entrar no mistério» significa
capacidade de estupefacção, de contemplação; capacidade de escutar o silêncio e
ouvir o sussurro de um fio de silêncio sonoro em que Deus nos fala (cf. 1 Re
19, 12).
Entrar no mistério requer de
nós que não tenhamos medo da realidade: não nos fechemos em nós mesmos, não
fujamos perante aquilo que não entendemos, não fechemos os olhos diante dos
problemas, não os neguemos, não eliminemos as questões...
Entrar no mistério significa
ir além da comodidade das próprias seguranças, além da preguiça e da
indiferença que nos paralisam, e pôr-se à procura da verdade, da beleza e do
amor, buscar um sentido não óbvio, uma resposta não banal para as questões que
põem em crise a nossa fé, a nossa lealdade e nossa razão.
Para entrar no mistério, é
preciso humildade, a humildade de rebaixar-se, de descer do pedestal do meu eu
tão orgulhoso, da nossa presunção; a humildade de se reajustar, reconhecendo o
que realmente somos: criaturas, com valores e defeitos, pecadores necessitados
de perdão. Para entrar no mistério, é preciso este abaixamento que é
impotência, esvaziamento das próprias idolatrias, adoração. Sem adorar, não se
pode entrar no mistério.
Tudo isto nos ensinam as
mulheres discípulas de Jesus. Elas estiveram de vigia naquela noite, juntamente
com a Mãe. E Ela, a Virgem Mãe, ajudou-as a não perderem a fé nem a esperança.
Deste modo, não ficaram prisioneiras do medo e da angústia, mas às primeiras
luzes da aurora saíram, levando na mão os seus perfumes e com o coração
perfumado de amor. Saíram e encontraram o sepulcro aberto. E entraram.
Vigiaram, saíram e entraram no Mistério. Aprendamos com elas a vigiar com Deus
e com Maria, nossa Mãe, para entrar no Mistério que nos faz passar da morte à
vida.
Fonte: http://br.radiovaticana.va/
Foto: CNS/Paul Hering
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