Paixão do Senhor: Quantos prisioneiros na mesma condição de Jesus!



O Papa Francisco presidiu, nesta Sexta-feira Santa (03/04), na Basílica de São Pedro, a Celebração da Paixão do Senhor. Nesse dia, não se celebra a Santa Missa, mas as funções da Sexta-feira da Paixão com a Liturgia da Palavra, Adoração da Cruz e Comunhão Eucarística.

homilia da celebração foi feita pelo Pregador da Casa Pontifícia, Frei Raniero Cantalamessa, que baseou a sua reflexão nas palavas de Pilatos: “Eis o homem”, recordando os muitos “Eis o homem” de nossos dias vítimas da fome, pobreza, injustiça e exploração.

“Desses males já se fala muitas vezes, embora nunca o suficiente, e há o risco de se tornarem abstrações. Categorias, não pessoas. Pensemos agora no sofrimento dos indivíduos, das pessoas com nome e identidade concreta; nas torturas decididas a sangue frio e infligidas voluntariamente, neste exato momento, por seres humanos contra outros seres humanos, inclusive crianças”, frisou Frei Cantalamessa.

“Quantos "Eis o homem" no mundo! Meu Deus, quantos Eis o homem”! Quantos prisioneiros na mesma condição de Jesus no pretório de Pilatos: sozinhos, algemados, torturados, à mercê de soldados ásperos e cheios de ódio, que se entregam a todo tipo de crueldade física e psicológica, divertindo-se em ver sofrer. "Não podemos dormir, não podemos deixá-los sós!", disse ainda o capuchinho.

“A exclamação "Eis o homem!" não se aplica somente às vítimas, mas também aos carnífices. Ela quer dizer: eis aqui do que o homem é capaz! Com temor e tremor, digamos ainda: eis do que somos capazes nós, homens! Muito distante da marcha inexorável do Homo sapiens sapiens, o homem que, segundo alguns, nasceria da morte de Deus e tomaria o seu lugar”, frisou.

Recordando o sofrimento dos cristãos, Frei Cantalemessa destacou que eles “não são, certamente, as únicas vítimas da violência homicida que há no mundo, mas não se pode ignorar que, em muitos países, eles são as vítimas marcadas e mais frequentes. Jesus disse um dia aos seus discípulos: "Chegará uma hora em que aqueles que vos matarem julgarão estar honrando a Deus". Talvez estas palavras nunca tenham achado na história um cumprimento tão pontual quanto hoje”, disse ele.

“Os mártires perfeitos celebraram a mais esplêndida das festas pascais ao ser admitidos no banquete celeste. Será assim para muitos cristãos também na Páscoa deste ano, 2015 depois de Cristo.”

Disse ainda o capuchinho, "então, indagará alguém, seguir a Cristo é sempre um resignar-se passivamente à derrota e à morte? Pelo contrário! "Tende coragem", disse Ele aos apóstolos antes da Paixão: "Eu venci o mundo". Cristo venceu o mundo vencendo o mal do mundo. 

“Os verdadeiros mártires de Cristo não morrem com os punhos cerrados, mas com as mãos juntas. Tivemos tantos exemplos recentes”, disse Frei Cantalamessa, recordando que foi Cristo quem deu aos 21 cristãos coptas mortos pelo Estado Islâmico na Líbia, em 22 de fevereiro passado, a força para morrerem murmurando o seu nome.

Papa no Coliseu: cristãos assassinados com o nosso silêncio

Nesta Sexta-feira Santa (03/04), o Papa Francisco presidiu a tradicional Via-Sacra no Coliseu romano, com a participação de milhares de fiéis.
Ao final da 14a estação, o Papa leu a seguinte oração:   

“Ó Cristo crucificado e vitorioso, a tua via-sacra é a síntese de tua vida, é o ícone de tua obediência à vontade do Pai, a realização do teu infinito amor por nós pecadores, a prova de tua missão e o cumprimento definitivo da revelação e da história da salvação. O peso da tua cruz nos liberta de todos os nossos fardos. Na tua obediência à vontade do Pai, nós nos damos conta da nossa rebelião e desobediência. Em ti vendido, traído e crucificado pela tua gente, nós vemos nossas cotidianas traições e infidelidades. Na tua inocência, vemos a nossa culpa; no teu rosto esbofeteado, cuspido e desfigurado, vemos a brutalidade dos nossos pecados. Na crueldade da tua paixão, vemos a crueldade do nosso coração e das nossas ações. No teu sentir-te abandonado, vemos todos os abandonados pelos familiares, pela sociedade, pela atenção e pela solidariedade. No teu corpo sacrificado e dilacerado vemos os corpos dos nossos irmãos abandonados nas ruas, desfigurados pela nossa negligência e indiferença. Na tua sede, Senhor, vemos a sede do teu Pai misericordioso que em ti quis abraçar, perdoar e salvar toda a humanidade. Em ti, divino Amor, vemos ainda hoje os nossos irmãos perseguidos, decapitados e crucificados pela sua fé em ti, sob nossos olhos ou com frequência com nosso silêncio cúmplice. Imprime em nosso coração sentimentos de fé, esperança, caridade, de dor pelos nossos pecados e leva-nos a nos arrepender pelos nossos pecados que te crucificaram. Leva-nos a transformar a nossa conversão feita de palavras em conversão de vida e de obras. Leva-nos a manter em nós uma recordação viva do teu rosto desfigurado para não esquecermos nunca o grande preço que tu pagaste para nos libertar. Jesus Crucificado, reaviva em nós a fé , que ela não ceda diante das tentações. Reaviva em nós a esperança, para que não se perca seguindo as seduções do mundo; guarda em nós a caridade, que não se deixe enganar pela corrupção e a mundanidade. Ensina-nos que a Cruz é o caminho para Ressurreição. Ensina-nos que a Santa-feira Santa é a estrada para a Páscoa de luz. Ensina-nos que Deus jamais esquece nenhum de seus filhos e jamais se cansa de nos perdoar e de abraçar com a sua infinita misericórdia. E ensina-nos a não nos cansar de pedir perdão e de acreditar na misericórdia sem limites do Pai.”

Depois da benção final, Francisco acrescentou uma saudação: “Voltemos a nossas casas com a lembrança de Jesus, de sua paixão, do seu grande amor, e também com a esperança da sua jubilosa ressurreição".

Este ano, as meditações foram confiadas ao Bispo emérito de Novara, Dom Renato Corti. O texto que acompanhou as 14 estações foi publicado também em português.

Os temas foram os dramas familiares do mundo de hoje, a presença feminina na Igreja e a “tristeza no abisso” de tantas almas feridas pela solidão, o abandono, a indiferença, as doenças, a morte de um ente querido; o risco de ser “cristãos mornos”, dramas coletivos como o tráfico de seres humanos, a condição das crianças-soldado, o trabalho em regime de escravidão, os jovens roubados de si mesmos, feridos em sua intimidade e barbaramente profanados com abusos sexuais; a pena de morte ainda praticada em muitos países, e toda forma de tortura e opressão violenta de inocentes. 

Dom Corti enriqueceu as meditações utilizando textos do Papa Paulo VI, do Cardeal Carlo Maria Martini e do Ministro paquistanês Shahbaz Bhatti, assassinado em 2011.

Dois brasileiros estavam entre as pessoas que carregaram a cruz de Jesus durante a Via-Sacra: os irmãos Rafaela e Vitor, adotados no Brasil por um casal de italianos, participaram da cerimônia ao lado dos pais na terceira estação. Além deles, também levaram a cruz duas religiosas iraquianas e pessoas provenientes de Síria, Nigéria, Egito e China, entre outras.

Foto: AP / Rádio Vaticano Facebook  

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