Solenidade da Mãe de Deus: a plenitude do tempo se cumpre com o sim de Maria
O Papa Francisco presidiu, na
manhã desta sexta-feira (01/01), na Basílica Vaticana, à celebração Eucarística
pela Solenidade de Maria Santíssima, Mãe de Deus.
Em sua homilia, o Santo Padre
partiu das palavras do apóstolo São Paulo: “Quando chegou a plenitude do tempo,
Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher” e explicou o seu significado
histórico:
Se o nosso olhar se fixar no
momento histórico, poderíamos ficar decepcionados. Sobre grande parte do mundo
daquela época, Roma dominava com suas forças militares. O imperador Augusto
havia chegado ao poder depois de cinco guerras civis. Também Israel fora
conquistado pelo Império Romano e o povo eleito estava privado da liberdade.
Logo, disse o Papa, aquele não
era certamente o tempo melhor para os contemporâneos de Jesus. Neste sentido,
foi necessário interpretar a “plenitude do tempo”, a partir de Deus, que
estabeleceu o momento de cumprir a promessa à humanidade.
Por isso, continuou o Pontífice,
não foi a história que decidiu a hora do nascimento de Cristo. Pelo contrário,
a sua vinda ao mundo permitiu à história chegar à sua plenitude. É por este
motivo que o cálculo de uma nova era começou com o nascimento do Filho de Deus
ou o cumprimento da antiga promessa:
“Logo, a plenitude do tempo é a
presença de Deus em pessoa na nossa história. Agora, podemos ver a sua glória,
que refulge na pobreza de uma estrebaria, e ser encorajados e sustentados pelo
seu Verbo, que se fez ‘pequeno’ em uma criança. Graças a Ele, o nosso tempo
encontra a sua plenitude”.
Porém, - frisou o Santo Padre -
este mistério sempre contrasta com a dramática experiência histórica.
Gostaríamos de ser sempre sustentados pelos sinais da presença de Deus. No
entanto, a “plenitude do tempo” parece desmoronar perante as inúmeras formas de
injustiça e violência, que ferem diariamente a humanidade. E o Papa se
perguntou:
“Como é possível que perdure a
prepotência do homem sobre o homem? Que a arrogância do mais forte continue a
humilhar o mais fraco, relegando-o às margens mais esquálidas do nosso mundo?
Até quando a maldade humana semeará violência e ódio na terra, causando vítimas
inocentes? Como pode ser ‘tempo da plenitude’ quando, diante dos nossos olhos,
multidões de homens, mulheres e crianças fogem da guerra, da fome, da
perseguição, dispostos a arriscar a vida para que sejam respeitados os seus direitos
fundamentais?”
Contudo, – disse Francisco - nada
disso pode contra o oceano da misericórdia divina que inunda o nosso mundo.
Todos nós somos chamados a mergulhar neste oceano, a deixar-nos regenerar, para
vencer a indiferença que impede a solidariedade. A graça de Cristo, que realiza
a expectativa da salvação, nos impele a sermos seus cooperadores na construção
de um mundo mais justo e fraterno, onde as pessoas e as criaturas possam viver
em paz, na harmonia da criação primordial de Deus. E o Papa ponderou:
“No início de um novo ano, a
Igreja faz-nos contemplar, como ícone de paz, a maternidade divina de Maria. A
antiga promessa realiza-se na sua pessoa, que acreditou nas palavras do Anjo;
ela concebeu o Filho e tornou-se Mãe do Senhor. Através do ‘sim’ de Maria
chegou a ‘plenitude do tempo’.”
Hoje, - concluiu o Pontífice, a
‘plenitude do tempo’ nos leva a individuar o sentido dos acontecimentos, que
tocam a nós, às nossas famílias, os nossos países e o mundo inteiro. Aonde não
pode chegar a razão dos filósofos, - frisou - nem as negociações políticas
conseguem fazer o que a força da fé e da graça do Evangelho de Cristo faz,
abrindo sempre novos caminhos à razão e às negociações.
A paz deve ser cultivada por nós,
conquistada, diz o Papa no Angelus
Após presidir na Basílica a missa
por ocasião da Solenidade da Mãe de Deus, o Papa Francisco rezou o Angelus da
janela do apartamento pontifício, com os milhares de fieis reunidos na Praça
São Pedro. Neste primeiro dia de 2016, Francisco quis desejar a todos um
“augúrio amparado por uma esperança real”.
O Papa observou que a troca de
felicitações na virada no ano é “um sinal da esperança que nos anima e nos
convida a acreditar na vida”, de que aquilo que nos espera “seja um pouco
melhor”. Recordando também que todos sabemos “que com o ano novo nem tudo
mudará, e que tantos problemas de ontem permanecerão também amanhã”. Apesar
desta constatação, a sua mensagem é de esperança.
Inspirado na Bênção Litúrgica em
que “o Senhor mesmo quis abençoar o seu povo”, Francisco diz que também ele
deseja isto: “que o Senhor volte o seu olhar sobre vocês e que possam se
alegrar, sabendo que em cada dia o seu rosto misericordioso, mais radiante do
que o sol, resplandece sobre vós e não se põe nunca!”:
“Descobrir o rosto de Deus renova
a vida. Porque é um Pai enamorado do homem, que não se cansa nunca de recomeçar
conosco do início, para nos renovar. Mas o Senhor tem uma paciência conosco!
Não se cansa de recomeçar do início cada vez que nós caímos. Porém, o Senhor
não promete mudanças mágicas. Ele não usa a varinha mágica. Ama mudar a
realidade a partir de dentro, com paciência e amor; pede para entrar na nossa
vida com delicadeza, como a chuva na terra, para dar fruto. E sempre nos espera
e nos olha com ternura. A cada manhã, ao despertar, podemos dizer: 'Hoje o
Senhor faz resplandecer a sua face sobre mim! Bonita oração, que é uma
realidade'”.
O Papa recordou que a Igreja
celebra hoje o Dia Mundial da Paz com o tema “Vence a indiferença e conquista a
paz”. “A paz que Deus deseja semear no mundo – disse – deve ser cultivada por
nós. E não somente, mas deve ser “conquistada””:
“Isto comporta uma verdadeira
luta, um combate espiritual, que tem lugar em nosso coração. Porque inimiga da
paz não é somente a guerra, mas também a indiferença, que faz pensar somente em
si mesma e cria barreiras, suspeitas, medos, fechamentos. E estas coisas são
inimigas da paz. Temos, graças a Deus, tantas informações; mas às vezes somos
tão bombardeados por notícias que ficamos distraídos da realidade, do irmão e
da irmã que tem necessidade de nós. Comecemos neste ano a abrir o coração, despertando
a atenção pelo próximo, a quem está mais perto. Este é o caminho para a
conquista da paz”.
Ao concluir sua reflexão, o Santo
Padre que a Rainha da Paz, a Mãe de Deus, cuja Solenidade é celebrada neste 1º
de janeiro, nos ajude neste intento, ela, que " guardava todas estas
coisas, meditando-as em seu coração”:
“As esperanças e as preocupações,
a gratidão e os problemas: tudo aquilo que acontecia na vida tornava-se, no
coração de Maria, oração, diálogo com Deus. E ela faz isto também por nós:
guarda as alegrias e desata os nós da nossa vida, entregando-os ao Senhor”.
Após recitar a oração do Angelus,
o Papa dirigiu-se aos fiéis manifestando o seu reconhecimento “pelas inúmeras
iniciativas de oração e de ação pela paz organizadas e todas as partes do mundo
por ocasião do Dia Mundial da Paz.
O Pontífice também saudou os
“Cantores da Estrela” – “crianças e jovens que na Alemanha e na Áustria levam
nas casas a bênção de Jesus e fazem uma coleta de ofertas para os pobres”.
Ao concluir, o Santo Padre
desejou a todos um “ano de paz na graça do Senhor, rico de misericórdia, e com
a proteção materna de Maria, a Santa Mãe de Deus”.
Fonte: br.radiovaticana.va
Foto: CTV
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