Papa na Missa do Galo: “Não há lugar para dúvida e indiferença”
O Papa presidiu à tradicional
Missa do Galo da noite de Natal, na Basílica de São Pedro. Francisco recordou
que, a partir desta noite em que “resplandece uma grande luz”, “não há espaço
para a dúvida e a indiferença”.
Abaixo, a íntegra da homilia do
Papa:
***
Nesta noite, resplandece “uma
grande luz” (Is 9, 1); sobre todos nós, brilha a luz do nascimento de Jesus.
Como são verdadeiras e atuais as palavras que ouvimos do profeta Isaías:
“Multiplicaste a alegria, aumentaste o júbilo” (9, 2)!
O nosso coração já estava cheio
de alegria vislumbrando este momento; mas, agora, aquele sentimento
multiplica-se e é abundante, porque a promessa se cumpriu: finalmente
realizou-se. Júbilo e alegria garantem-nos que a mensagem contida no mistério
desta noite provém verdadeiramente de Deus.
Dúvida e indiferença
Não há lugar para a dúvida;
deixemo-la aos céticos, que, por interrogarem apenas a razão, nunca encontram a
verdade. Não há espaço para a indiferença, que domina no coração de quem é
incapaz de amar, porque tem medo de perder alguma coisa. Toda a tristeza é
afastada, porque o Menino Jesus é o verdadeiro consolador do coração.
Nasceu o filho de Deus
Hoje, o Filho de Deus nasceu:
tudo muda. O Salvador do mundo vem para Se tornar participante da nossa
natureza humana: já não estamos sós e abandonados. A Virgem oferece-nos o seu
Filho como princípio de vida nova. A verdadeira luz vem iluminar a nossa
existência, muitas vezes encerrada na sombra do pecado.
Hoje descobrimos de novo quem
somos! Nesta noite, fica claro o caminho que temos de percorrer para alcançar a
meta. Agora, deve cessar todo o medo e pavor, porque a luz nos indica a estrada
para Belém. Não podemos permanecer inertes. Não nos é permitido ficar parados.
Temos de ir ver o nosso Salvador, deitado numa manjedoura. Eis o motivo do
júbilo e da alegria: este Menino “nasceu para nós”, foi-nos “dado a nós”, como
anuncia Isaías (cf. 9, 5).
A um povo que, há dois mil anos,
percorre todas as estradas do mundo para tornar cada ser humano participante
desta alegria, é confiada a missão de dar a conhecer o “Príncipe da paz” e
tornar-se um instrumento eficaz d’Ele no meio das nações.
Silenciar
Por isso, quando ouvirmos falar
do nascimento de Cristo, permaneçamos em silêncio e deixemos que seja aquele
Menino a falar; gravemos no nosso coração as suas palavras, sem afastar o olhar
do seu rosto. Se O tomarmos nos nossos braços e nos deixarmos abraçar por Ele,
nos dará a paz do coração que jamais terá fim.
Este Menino ensina-nos aquilo que
é verdadeiramente essencial na nossa vida. Nasce na pobreza do mundo, porque,
para Ele e sua família, não há lugar na hospedaria. Encontra abrigo e proteção
num estábulo e é deitado numa manjedoura para animais.
Sobriedade
E todavia, a partir deste nada,
surge a luz da glória de Deus. A partir daqui, para os homens de coração
simples, começa o caminho da verdadeira libertação e do resgate perene. Deste
Menino, que, no seu rosto, traz gravados os traços da bondade, da misericórdia
e do amor de Deus Pai, brota – em todos nós, seus discípulos, como ensina o
apóstolo Paulo – a vontade de “renúncia à impiedade” e à riqueza do mundo, para
vivermos “com sobriedade, justiça e piedade” (Tt 2, 12).
Numa sociedade frequentemente
embriagada de consumo e prazer, de abundância e luxo, de aparência e
narcisismo, Ele chama-nos a um comportamento sóbrio, isto é, simples,
equilibrado, linear, capaz de individuar e viver o essencial.
Num mundo que demasiadas vezes é
duro com o pecador e brando com o pecado, há necessidade de cultivar um forte
sentido da justiça, de buscar e pôr em prática a vontade de Deus. No seio duma
cultura da indiferença, que não raramente acaba por ser cruel, o nosso estilo
de vida seja, pelo contrário, cheio de piedade, empatia, compaixão,
misericórdia, extraídas diariamente do poço de oração.
Como os pastores de Belém, possam
também os nossos olhos encher-se de espanto e maravilha, contemplando no Menino
Jesus o Filho de Deus. E, diante d’Ele, brote dos nossos corações a invocação:
"Mostra-nos, Senhor, a tua misericórdia, concede-nos a tua salvação"
(Sal 85/84, 8).
Foto: Reuters
Fonte: http://br.radiovaticana.va/
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