Angelus: A sociedade se torne família e acolha crianças que fogem da guerra
A abertura do Sínodo sobre a
família foi o tema da alocução que o Papa pronunciou antes da oração do
Angelus, na Praça S. Pedro, na presença de inúmeros fiéis e peregrinos.
Sínodo
Durante três semanas, disse
Francisco, os padres sinodais refletirão sobre a vocação e a missão da família
na Igreja e na sociedade, para um atento discernimento espiritual e pastoral.
Manteremos o olhar fixo em Jesus para identificar as estradas mais oportunas
para um empenho adequado da Igreja com as famílias e para as famílias.
Reciprocidade
A liturgia deste domingo,
ressaltou o Papa, propõe o Livro do Gênesis sobre a complementariedade e
reciprocidade entre homem e mulher. Ao deixarem os pais, os esposos se unem
numa só carne e numa só vida. Desta unidade, os cônjuges transmitem a vida a
novos seres humanos e se tornam pais. “Participam da potência criadora de
Deus", disse Francisco, que advertiu: "Mas atenção! Deus é amor, e se
participa da sua obra quando se ama com Ele e como Ele. É o amor que alimenta a
relação, através das alegrias e das dores, momentos serenos e difíceis". É
o mesmo amor com o qual Jesus, no Evangelho deste domingo, manifesta às
crianças.
Infância maltratada
Francisco pediu ao Senhor que
todos os pais e educadores do mundo, assim como toda a sociedade, se façam
instrumentos daquele acolhimento e daquele amor com o qual Jesus abraça os
pequeninos.
“Penso nas muitas crianças
famintas, abandonadas, exploradas, obrigadas à guerra, rejeitadas. É doloroso
ver as imagens de crianças infelizes, com o olhar perdido, que fogem da pobreza
e dos conflitos, batem às nossas portas e aos nossos corações implorando ajuda.
O Senhor nos ajude a não sermos uma sociedade-fortaleza, mas uma
sociedade-família, capaz de acolher, com regras adequadas, mas acolher. Acolher
sempre, com amor.”
Por fim, o Pontífice pede a
oração dos fiéis pelos trabalhos do Sínodo, para que o Espírito Santo torne os
padres sinodais plenamente dóceis às suas inspirações.
Flagelo da guerra
Após a oração mariana, o Papa
recordou a beatificação em Santander, na Espanha, de 18 monges trapistas,
assassinados por sua fé durante a guerra civil espanhola. “Louvemos ao Senhor
por esses testemunhos corajosos e, por sua intercessão, supliquemos que libertem
o mundo do flagelo da guerra.”
Guatemala e França
Francisco pediu ainda orações e
ajudas concretas às vítimas de um deslizamento de terra na Guatemala e dos
temporais na Costa Azul, na França. E saudou de modo especial os peregrinos
italianos, que festejam este domingo S. Francisco de Assis, padroeiro do país.
Papa inaugura Sínodo da família:
A Igreja seja ponte, não barreira
Com uma celebração eucarística na
Basílica de S. Pedro, o Papa Francisco inaugurou na manhã deste domingo (04/10)
a XIV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, que tem por tema a
família.
A Missa foi concelebrada pelos
270 padres sinodais, que a partir desta segunda-feira vão debater “A vocação e
a missão da família na Igreja e no mundo contemporâneo”.
Em sua homilia, o Pontífice
comentou as leituras do dia, “que parecem escolhidas de propósito” para o
evento que a Igreja se prepara a viver e estão centradas em três argumentos: o
drama da solidão, o amor entre homem-mulher e a família.
Solidão
Na primeira Leitura, Adão vivia
no paraíso e sentia-se só. A solidão, disse o Papa, “é um drama que ainda hoje
aflige muitos homens e mulheres”, e citou os idosos, os viúvos, homens e
mulheres deixados pela sua esposa e pelo marido, migrantes e refugiados que
escapam de guerras e perseguições; e tantos jovens vítimas da cultura do
consumismo e do descarte.
Francisco denunciou o paradoxo do
mundo globalizado, "onde há tantas habitações de luxo, mas o calor da casa
e da família é cada vez menor; muitos projetos ambiciosos, mas pouco tempo para
desfrutá-los; muitos meios sofisticados de diversão, mas um vazio cada vez mais
profundo no coração; tantos prazeres, mas pouco amor; tanta liberdade, mas
pouca autonomia... Aumenta cada vez mais o número das pessoas que se fecham na
escravidão do prazer e do deus-dinheiro".
O Papa constatou ainda que há
pouca seriedade em levar avante uma relação sólida e fecunda de amor. Cada vez
mais o amor duradouro e fiel é objeto de zombaria e olhado como se fosse uma
antiguidade. Parece que as sociedades mais avançadas sejam precisamente aquelas
que têm o índice mais baixo de natalidade e o índice maior de abortos, de
divórcios, de suicídios e de poluição ambiental e social.
O amor entre homem e mulher
Deus não criou o ser humano para
viver na tristeza ou para estar sozinho, acrescentou, mas para a felicidade,
para partilhar o seu caminho com outra pessoa; para amar e ser amado. É Ele que
une os corações de duas pessoas que se amam e liga-os na unidade e na
indissolubilidade. Isto significa que o objetivo da vida conjugal não é apenas
viver juntos para sempre, mas amar-se para sempre.
A família
Citando o Evangelho de São Marcos
“O que Deus uniu não o separe o homem”, Francisco afirmou que se trata de uma
exortação a superar toda a forma de individualismo. Para Deus, explicou o Papa,
o matrimônio não é utopia da adolescência, mas um sonho sem o qual a sua
criatura estará condenada à solidão.
Paradoxalmente, também o homem de
hoje continua atraído e fascinado por todo o amor autêntico, fecundo, fiel e
perpétuo. Corre atrás dos prazeres carnais, mas deseja a doação total.
Neste contexto social e
matrimonial bastante difícil, a Igreja é chamada a viver a sua missão na
fidelidade e na verdade. Isto é, defender a sacralidade da vida, a
indissolubilidade do vínculo conjugal, sem mudar sua doutrina segundo as modas
passageiras ou as opiniões dominantes.
Caridade
Outro elemento fundamental,
todavia, é também a caridade.
“A Igreja deve viver a sua missão
na caridade sem apontar o dedo para julgar os outros, mas se sente no dever de
procurar e cuidar dos casais feridos com o óleo da aceitação e da misericórdia;
de ser ‘hospital de campanha’, com as portas abertas para acolher todo aquele
que bate pedindo ajuda e apoio.”
A Igreja, exortou Francisco, deve
procurar o homem e a mulher, para acolhê-los e acompanhá-los, porque uma Igreja
com as portas fechadas trai a si mesma e à sua missão e, em vez de ser ponte,
torna-se uma barreira.
“Com este espírito, peçamos ao
Senhor que nos acompanhe no Sínodo e guie a sua Igreja pela intercessão da
Bem-Aventurada Virgem Maria e de São José, seu castíssimo esposo.”
Fonte: br.radiovaticana.va
Foto: Gaudium Press
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